A seguir, a 3ª parte do nosso especial sobre torcida de futebol:
Os times de futebol são, em primeira análise, os principais agentes do esporte. Em outras palavras, futebol é um esporte coletivo, o que justifica a frase anterior. Portanto, a despeito de conhecermos alguns renegados que gostam do ludopécio, até o praticam, mas não torcem pra time nenhum, é muito mais comum que as pessoas torçam para algum time em detrimento do espetáculo em si. Assim, é quase certo que todo mundo que gosta (de futebol) torce (pra algum time).
Mas não é só isso que explica o motivo pelo qual alguém escolhe um time para torcer. Eu mesmo conheço (e faço parte desta lista) muita gente que gosta de futebol, mas que gosta de seu time em primeiro lugar. Falando em time, este é formado de jogadores. E jogadores de futebol, em qualquer lugar em que o esporte é apreciado, são ídolos. E um time recheado de ídolos, ou com um adorado por sua torcida, tem uma propensão a ser alvo da escolha dos torcedores. O Flamengo do início dos anos 80 é um bom exemplo disto. O time tinha os dois melhores laterais que o Brasil já viu – Leandro e Júnior – tinha Zico, Adílio e Andrade na meia, Raul Plassmann no gol, uma zaga sensacional formada, em anos diferentes, por Marinho, Mozer, Figueiredo, Rondinelli… Outro exemplo, na mesma época, pode ser o Atlético-MG, que tinha seu maior ídolo em todos os tempos, Reinaldo, e os bons Éder Aleixo, Nelinho e Luisinho. Bom, mas nem assim o Galo levou alguma coisa na época…
A exposição à mídia, dizem, também ajuda no aumento do número de torcedores. É bem verdade que a mídia espontânea penetra na casa das pessoas sem que elas permitam e, quanto mais aparecem, mais gente acompanha. E há uma tendência a se torcer para quem está em evidência. O Grêmio e o Cruzeiro, fora de seus estados, é claro, podem ser exemplos disto.
Títulos conquistados, partidas memoráveis e torneios importantes disputados também ajudam a angariar torcida. Afinal, é do ser humano torcer para quem está ganhando. Esta razão traz em si – ou são trazidas por ela, não se sabe bem – algumas das demais. Simples assim: os títulos trazem dinheiro (e torcida) e o dinheiro traz craques que se tornam ídolos (e mais torcida). Com craques, os times tendem a fazer jogos incríveis, conquistarem títulos e se classificarem para torneios mais importantes (e ganham mais torcida). Com isto a exposição na mídia aumenta (e também a torcida). E assim segue e o ciclo se repete. O São Paulo FC tem uma torcida crescente por este motivo.
No mundo moderno, não se pode esquecer que os aspectos gerenciais também contribuem para o sucesso dos clubes de futebol junto ao público. Ações de marketing também ajudam a fidelizar o torcedor, a fixar a “marca” do time, a fazê-la presente nos meios de comunicação e nos eventos relativos ao esporte. O Internacional de Porto Alegre explora bem este tipo de ação, responsável pelo fato de que este é o clube que mais tem associados no Brasil, cerca de 100 mil sócios-torcedores.
O feito de determinada cidade ter um bom time de futebol também é razão para que seus habitantes ou os que ali nascem o escolham para ser seu time de coração. Um bom exemplo recente disto é o Goiás, time pequeno que se firmou entre os grandes da 1ª divisão nacional e trouxe, com isto, um bom número de torcedores da região. Os times das capitais do Nordeste também passam por situação semelhante, em que pese muitos de seus fãs terem um outro time para torcer no eixo Rio-São Paulo.
Quando um time de futebol se sobressai perante os demais, há uma tendência a aumentar a torcida de seus rivais. A exposição de que o time é vítima também traz um revés. O Flamengo, por exemplo, além de ter a maior torcida do mundo, também é um dos times de maior rejeição perante os torcedores dos demais times. Isto não explica, por si só, mas ajuda a entender a formação da torcida do Vasco da Gama. Os sucessivos êxitos do Flamengo sobre o time de São Januário engrossou a torcida vascaína, e a lançou muito além do circuito de padarias e das comunidades lusitanas do Brasil.
A influência dos pais é um dos fatores preponderantes na escolha de um time de futebol. Afinal, no Brasil, é uma questão de educação. Que pai ficaria feliz em ver o filho com a camisa do time adversário? E, normalmente, os filhos tendem a obedecer aos pais, inclusive nestas questões.
No entanto, no meu entender, não há nada que traga mais torcedores para um clube ou um time de futebol que o carisma. Esta palavra pode ser confundida com tradição, com as cores da camisa, com a história de sucessos e fracassos, com moda, com o movimento das arquibancadas. Não há como explicar objetivamente esta relação. É alguma coisa entre o lúdico e o incrível. O crescimento da torcida independe dos resultados do time. Passa ao largo das crises internas, de campanhas ruins, de jogadores medíocres, ou de precariedade das instalações. Em outras palavras, trata-se de uma questão paradoxal: se chegamos à conclusão que alguém escolhe um time para torcer pelas razões acima, ou por uma combinação delas, como pode alguém torcer para um time exatamente pelos motivos contrários a isto tudo? É como disse, não há explicação, principalmente para relações baseadas em paixão. E o futebol é uma delas. O melhor exemplo do motivo que leva alguém a torcer para um time de futebol listado neste parágrafo? Nem preciso dizer. Basta perguntar pra qualquer um qual é o Mais Querido…
Flamengo até morrer!